- 18 de julho de 2022
- Posted by: blog
- Category: Blog Omega
Beatriz Berman tem 19 anos e é graduanda de ciências sociais na Universidade Federal da Bahia. Bia é irmã de uma aluna OMEGA e a convidamos para compartilhar o resultado de um trabalho de campo – através da observação participante, ou seja, realizando a descrição de uma determinada comunidade a partir da sua experiência vivida na Base Transcriativa – espaço de transformação criativa.
Situada no ponto mais alto da Gamboa do Morro – Arquipélago de Cairu – a localização privilegiada conversa diretamente com os residentes do lugar. A Base Transcriativa, ou apenas Base para aqueles que já estão familiarizados com a estrutura, me aparenta ser muito mais do que um espaço; a vivência em um ambiente criativo, com o propósito de transformar criativamente sua visão sobre a vida, ideias e negócios, juntamente com a imersão em uma atmosfera profissional excepcional – fora da curva dos cubículos padronizados da cidade – determinam um conjunto de experiências transformadoras.
Durante minha estadia, foi possível perceber o quanto o ambiente proporciona uma nova possibilidade do exercício ocupacional, através da liberdade de produzir, gerenciar, trocar e compartilhar ideias, vivências, conhecimentos e pontos de vista de forma conjunta e criativa.
Reuniões, discussões fervorosamente carregadas de discernimento, bate-papos e xícaras de café preto espalhadas pelas mesas são retratos – e características – substancialmente comuns e intrínsecas ao local. É do cotidiano destes profissionais tomar café da manhã todos os dias no mirante, ouvir música enquanto trabalha e se reunir na longa mesa de madeira, muitas vezes utilizada como palco de ideias e rodas de conversa.
Os residentes – Nati Montibeller, Liu Berman, Eduardo Sepulveda, Brndon Tavares e Alex Lima – compõem o time que impulsiona e dá vida a todo o projeto.
No entanto, o que mais me chamou atenção foi a escolha que os levou até a construção daquela ideia. Cinco pessoas de regiões completamente diferentes do Brasil, especializadas em áreas profissionais distintas, optaram por deixar para trás o ambiente corporativo da cidade, as cargas horárias excessivas e a rotina exaustiva e embarcaram na consolidação de um espaço construído por profissionais para profissionais.
É nesse contexto que surgem os nômades criativos, hóspedes que optam por passar uma temporada de imersão cultural, profissional e criativa em uma ilha que consegue distanciar as pessoas do ambiente sistemático urbano e introduzi-las em um novo estilo de vida . Ao longo da minha observação, me chamou atenção a quantidade de pessoas que passam por aquele ambiente e a forma que as trocas acontecem. Sempre de forma natural, os nômades trabalham sentados na beira da piscina, da varanda dos seus bangalôs, do alto do mirante, nas espreguiçadeiras.
Utilizam da tecnologia para conectarem-se com o ambiente de trabalho, além de contribuírem com o turismo inteligente. Não existem escritórios, nem horários a
serem cumpridos, muito menos uniformes. Não existe distinção entre o que é e não é trabalho, o fluxo de ideias surge a qualquer momento do dia, em qualquer área. Obrigações são cumpridas de forma saudável, respeitando a saúde mental e os limites de cada pessoa.
Finalmente, fui capaz de enxergar nesse espaço – uma pousada, localizada em uma ilha, longe dos tumultos do cotidiano – o resultado de um movimento que vem acontecendo ao longo do mundo inteiro: Great Resignation (A Grande Renúncia).
Caracterizado por uma onda de demissões, esse movimento evidencia a relação de indivíduo – ambiente de trabalho. Alto nível de pressão, inseguranças, falta de reconhecimento profissional e rotinas tóxicas são alguns dos motivos que impulsionam pessoas ao redor do planeta a largarem seus empregos e
buscarem inovação. A Base Transcriativa é, portanto, um mecanismo de mobilidade profissional, cultural e social. As pessoas daquele ambiente, os nômades criativos e digitais escolheram romper com o estado estático das instituições burocráticas e decidiram buscar a independência profissional, financeira, física e intelectual. Me parece, dessa maneira, que além de ter observado um grupo com características muito singulares, em um espaço tão
singular quanto, eu também observei um movimento. São pessoas determinadas a pensar fora da caixa, ou do escritório. São, da mesma forma, determinadas a inspirarem outras pessoas a fazer o mesmo.
Depoimento de uma nômade criativa